terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

São Gilberto e a espiritualidade quaresmal

           

            A quaresma é um tempo favorável à conversão e o modelo para este caminho é o amor de Deus, revelado em Jesus Cristo que veio cumprir fielmente todo o plano de Deus em vista da salvação da humanidade. A sua espiritualidade remente ao itinerário percorrido pelo povo santo de Deus, quando com braço forte, o Senhor o libertou da terra do Egito, a terra da amargura e da angústia.
             Este povo novo, o povo da Nova Aliança somos todos nós que abraçamos a fé em Jesus Cristo e movidos pelo santo Espírito também convocados a sairmos da nossa terra do Egito, deixarmos ser conduzidos e alimentados pela Palavra de Deus que habitou entre nós e por meio do qual Deus Pai nos tem falado.
            A disponibilidade humana, aqui também se faz presente: "Por isso diz ao entrar no mundo: não quiseste sacrifícios nem oferendas, mas me formaste um corpo...Então eu disse: aqui estou, vim para cumprir, ó Deus, tua vontade" (Hb 10,5-7). A iniciativa divina sempre é a salvação integral do seu povo. Ouso dizer: o ser humano é o "objeto de desejo" de Deus. Da mesma forma que Deus é a eterna busca do mais íntimo e dilacerante desejo do ser humano. Assim, iniciativa divina e resposta humana escrevem uma história de êxodo e, cheia de tensão.
             Esta forte experiência foi a mesma que viveu fortemente São Gilberto: buscar uma espiritualidade quaresmal  feita de tensão porque é uma espiritualidade de deserto. Na verdade, pela vida afora, vivemos a espiritualiade numa intensa relação de amor com Deus que supre a nossa pobreza pela sua riqueza que favorece a nós porque sempre é Ele quem toma a iniciativa de vir ao nosso encontro.
             São Gilberto permitiu que a espiritualidade da quaresma envolvesse sua vida porque para que esta espiritualidade aconteça é preciso deixar que a voz de Deus fale ao nosso coração, como nos fala o salmista: "se hoje escutais a voz dele, não endureçais o coração como quando o irritaram, no dia da prova no deserto, quando vossos pais me puseram à prova e me tentaram, embora tivessem visto minhas ações durante quarenta anos. Por isso me indignei contra aquela geração, e disse: sua mente sempre se extravia e não reconhecem meus caminhos. Por isso, irado, jurei: não entrarão em meu descanso" (Salmo 94, 8-11).
              Quando se deseja viver este tempo em toda a plenitude de sua mística temos o paraíso reencontrado, pois ela é marcada pelo envolvimento amoroso entre a criatura e o seu Criador, num espaço geográfico teológico dentro de um processo histórico-salvífico realizado de maneira única pelo filho de Deus. E quem faz encontro com o Filho de Deus é envolvido de graça e paz, experimenta a alegria, vive em harmonia consigo mesmo e com os outros, é envolvido por uma luz que aponta caminhos seguros de vida.
              Ao ler a história de São Gilberto percebe-se claramente a realização desta mística em sua vida. Ele foi fortemente marcado pela penitência quaresmal, pela observância das atitudes evangélicas que impulsionam este itinerário de tal forma que sua espiritualidade conseguiu viver a santidade de Deus e, ao mesmo tempo, alcançou uma nova dinâmica de vida em relação ao seu próximo, viveu o mandamento novo: a caridade.
              Que pela sua intercessão vivamos também a espiritualidade quaresmal numa travessia de nossas obras mortas pelo pecado à graça de uma vida nova, marcada também pela nossa travessia do Mar Vermelho até a terra onde corre leite e mel.



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